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Tag: Braulio Tavares

777 JACKPOT! SE7E MONSTROS BRASILEIROS.

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Israel Portela de Farias

  1. Pra começar (ou continuar)…

1) Escritor; 2) Poeta; 3) Compositor; 4) Letrista; 5) Pesquisador; 6) Colunista; 7) Blogueiro. O homem de sete faces, Braulio Tavares, nasceu em Campina Grande, Paraíba, no ano de 1950. Vindo de uma família de poetas, Braulio Tavares aprendeu com seu pai a decorar sonetos e as regras básicas de métrica e rima. Com grande influência da literatura de cordel, escreveu obras como A pedra do meio-dia, ou Artur e Isadora (1979) e As baladas de Trupizupe (1980). Ao público infantil e juvenil escreveu O flautista misterioso e os ratos de Hamelin (2006, Prêmio APCA) e A invenção do mundo pelo Deus-curumim (2008, Prêmio Jabuti 2009). Com coletânea de contos A espinha dorsal da memória (1989) foi o primeiro brasileiro a ganhar o Prêmio Caminho de Ficção Científica (Portugal/1989). Buscando juntar as mentalidades complementares do mundo, a mentalidade mágica e a mentalidade científica, Braulio Tavares publicou o seu primeiro romance, A máquina voadora (1994).

No livro Se7e monstros brasileiros Braulio Tavares reúne o imaginário nacional através de sete contos inéditos inspirados nas criaturas monstruosas da mitologia brasileira. Seres que são conhecidos pela tradição oral de determinadas regiões do país como o Papa-Figo e a Porca de Soledade e outros mais famosos como o lobisomem e a Iara perambulam pelo livro de forma misteriosa aterrorizando o leitor. Inspirado pela riqueza da nossa tradição, Braulio Tavares compõe essa coletânea de histórias e nos submete a adentrar em um mundo regido pelo fantástico, onde as lendas antigas fazem uma mescla com a cultura dos dias de hoje, envolvendo o sobrenatural com o atual de modo que os monstros antigos sejam revividos de forma surpreendente e inovadora.

2. Se7e Razões para ler Se7e monstros brasileiros, de Braulio Tavares.

Os sete pecados capitais, as cores do arco-íris, as sete vidas de um gato, as sete notas musicais, sete dias da semana, as sete maravilhas do mundo antigo… 777 jackpot! O misticismo do número sete vai muito além dos exemplos citados. Algumas pessoas ligam o número ao religioso, outras ligam o número à sorte ou ao azar. Braulio Tavares nós apresenta fantasia do numero sete através lendas brasileiras, misturando o medo, as crenças, e a cultura atual. Para conhecer mais sobre a obra, destacamos abaixo as sete razões para lermos a obra Se7e monstros brasileiros:

  1. A sétima filha. Esposa do advogado Horácio, o homem mais cético da cidade, Maria Dôra tem de aguentar os deboches do marido perante o fato do padre da cidade ter o mandato cassado. “Padre tem mandato?”. Isso não se sabe, o que se sabe é que se o mandato do padre foi cassado, seus batismos e bênçãos são considerados nulos, o que anula o batismo do irmão mais velho sobre aquela que é a sétima filha.
  2. Bradador, “- Bradadô… bradadô… bradadô…”. Gemendo em cima dos telhados, gritando a sua própria dor. Bradador é o mostro que lamenta suas desgraças. “- Torturador dos abandonados!”, “- Sequestrador das virgens!”, “- Prostituiu a filha pequena! É Bradadô!”. “- Bradadô… bradadô… bradadô…”.
  3. O Papa-Figo, que de figo não papa nada, o que gosta mesmo de comer é o fígado da meninada. Morfeia ou lepra, ninguém sabe o que o Dr. Amorim tem, o que sabem é que naquela rua, ele não assusta mais ninguém…
  4. A porca de Soledade, que nunca ficou na solidão, comeu tanto na vida, que tiveram que fazer um mutirão. Da Paraíba para o mundo, a porca virou internacional, comia e se agigantava de uma forma descomunal.
  5. Os mortos-Vips, “[…] outro grupo emerge das ruínas de um clube, desta vez são mais de quarenta, os homens de black tie, e as mulheres com vestidos longos em seda ou lamê, com dentes matraqueando, o rosto em desmanche.”
  6. A expedição Monserrat, um mistério que até hoje ninguém resolveu. Em uma região montanhosa do Centro-Oeste Brasileiro, um grupo de dez pessoas sai em uma exploração e encontra um destino trágico. Dos dez integrantes do grupo, cinco são encontrados mortos, quatro sumiram sem deixar nenhum tipo de pista e um sobrevivente que se apresenta delirante e semiconsciente. Há boatos de que o que ocorreu nessa expedição não foi nada além de um ataque do Carbúnculo.
  7. Uma gota de sangue. O Tropical Hotel River será inaugurado em menos de 24 horas. Depois de passar o dia resolvendo problemas com os arquitetos, engenheiros e o atraso de cinquenta mesas para o evento, Givaldo Nunes vai à procura do colega Henri. Givaldo não encontra o colega, porém encontra algo que lhe chama a atenção. Na concha de mármore de uma das piscinas do hotel, estava deitada uma linda mulher, nua, encolhida sobre si, esperando a chegada de Givaldo. Um beijo e nada mais.

Uma razão a mais: É como quebrar espelho, não adianta reclamar. Se você não ler, Se7e monstros brasileiros vai ter sete anos de azar.

3. Perguntas frequentes…

a. Os contos de Braulio Tavares utilizam monstros e mitos da tradição popular de uma forma muito pessoal. Em alguns casos, o autor mistura lendas para criar um monstro ainda mais assustador. Quais são os contos em que ele mistura as lendas?

“A sétima filha” conta a conhecida lenda do lobisomem, a qual reza que se o sétimo filho não for batizado pelo irmão ou irmã mais velho torna-se um homem lobo. No conto “Bradador”,  Braulio Tavares une dois monstros, O Bradador e o Corpo-Seco, ambos estudados por Câmara Cascudo nas suas pesquisas sobre a mitologia brasileira. Em “Uma gota de sangue” o autor mistura dois mitos, a Iara e o Capelobo, que também foram estudados por Câmara Cascudo.

b. Qual a diferença entre as histórias do livro de Braulio Tavares e as lendas brasileiras em que foram baseadas? Cite alguns exemplos.

As histórias se passam em situações diferentes das lendas originais. O que era tradicional é contado pelo autor agora com uma mistura de recordações pessoais e de temas da atualidade. O que se passava em um rio, como no caso da lenda da Iara que encanta os pescadores, no texto de Tavares se passa na piscina de um hotel de luxo. envolvendo um empresário em um casamento em crise. Outro exemplo é o conto dos mortos-Vip’s, onde os zumbis que antes eram maltrapilhos e desajeitados invadem a cidade usando smoking e vestidos de seda.

 

Pa te 3. Caminhar pela de memória

Pa te 3. Caminhar pela de memória

A formação do leitor, alicerçada a todo uma dinâmica metodológica de aprimoramento da competência leitora, em uma construção que envolve estratégia de mediação e de interação entre o sujeito leitor e o texto literário, implica também a mobilização de um acervo de leituras. A constituição desse corpus, obviamente associado a localização identitárias dos sujeitos, à(s) cultura(s) com a(s) qual(is) esses sujeitos se identificam, tem uma função de dupla dimensão quando se observa a tradição literária.

Em primeiro lugar, um corpus canônico sustenta no próprio processo interpretativo da recepção e no processo constitutivo desses textos a evolução histórica da literatura, seus deslocamentos e alternâncias na projeção do tempo. Tratar das fontes é uma necessidade de qualquer investimento pedagógico na formação do leitor e, principalmente, na compreensão de que a literatura acontece em um constante diálogo intertextual, no qual o contemporâneo tem sempre um olhar no passado. Todo ato criativo, toda voz criadora, sempre pode ser, segundo Bakhtin, “a segunda voz do discurso” (1992). Isso quer dizer que todo produto discursivo é de alguma forma resposta ao que lhe antecedeu e, também, proposta ao que virá depois. Não existem enunciados fora dessa relação de diálogo. Toda obra literária, assim como qualquer discurso, se articula em um ato de locução que de certa forma replica propondo tréplicas:

“O próprio locutor, como tal, é em certo grau, um respondente, pois não é o primeiro locutor, que rompe pela primeira vez o eterno silêncio do mundo mudo, e pressupõe não só a existência do sistema da língua que utiliza, mas também a existência dos enunciados anteriores […] aos quais seu próprio enunciado está vinculado por algum tipo de relação” (Bakhtin, 1992, grifo do autor).

Assim, se cada enunciado, cada texto, cada poema, romance, conto, são elos em uma cadeia de outros enunciados, entender o contemporâneo tem, como fundamento, conhecer a tradição.

Em segundo lugar, a literatura como objeto de reflexão, de estudo e de ensino não pode viver sem um olhar preocupado com a tradição, pois isso significa saber quem somos como sociedade e como cultura. No que se refere à escola atual e mesmo à universidade,  associa-se à crise de leitura um voltar-se as costas para a tradição, privar a recepção de qualquer história. É evidente que o contexto de inovações tecnológicas pode ser visto como um fator que afasta a leitura das produções do passado, focalizando o olhar de hoje no “amanhã” das telas digitais. O problema, contudo, é anterior à ubiquidade invasiva dos celulares. Segundo Zilberman (2009):

O novo panorama escolar, vigente até os dias de hoje, caracteriza-se pela ruptura com a história do ensino da literatura, porque se dirige a uma clientela para a qual a tradição representa pouco, já que aquela provém de grupos aos quais não pertence e com os quais não se identifica. A nova clientela precisa ser apresentada à literatura, que lhe aparece de modo diversificado e não modulado, tipificado ou categorizado; ao mesmo tempo, porém, fica privada da tradição, à qual continua sem ter acesso, alargando a clivagem entre os segmentos que chegam à escola e a história dessa instituição.

Ao homenagear quatro autores que cumprem décadas de nascimento ou morte em 2017, a Jornada Nacional de Literatura de Passo Fundo, em sua 16ª edição, pretende trazer a tradição pela voz do contemporâneo. Assim, os atores convidados a tratar de Clarice Lispector, Ariano Suassuna, Moacyr Scliar e Carlos Drummond de Andrade terão suas obra lidas da mesma forma como serão interpretadas também as obras dos homenageados. De alguma forma eles estão, latentes, potenciais,  nos textos de Afonso Romano de Sant’Anna, de Bráulio Tavares, de Cintia Moscovitch e de Nádia Gotlib.

 

Miguel Rettenmaier

Fabiane Verardi Burlamque