EU ME CHAMO ANTÔNIO, DE PEDRO GABRIEL: POESIA EM GUARDANAPO, PORÇÕES DE ENCANTO.
Mayara Corrêa Tavares
- Pra começar (ou continuar)…
Nascido no centro-norte da África do Sul, Pedro Antônio Gabriel Anhorn, mais conhecido por Pedro Gabriel, tem nacionalidade suíça, por parte de pai, e brasileira, por parte de mãe, e veio para o Brasil aos 12 anos de idade. Diante da dificuldade na adaptação à língua portuguesa – ele foi alfabetizado em francês; seu olhar para as palavras é sensível, desenvolvendo um talento para desenhá-las. Pedro Gabriel, que afirma ser um “desenhador de palavras”, e não um poeta e nem um ilustrador. É formado em Publicidade e Propaganda e desde 2012 tem a página Eu me chamo Antônio no Facebook, onde seus escritos se popularizaram – a página tem mais de 1 milhão de curtidas.
O livro Eu me chamo Antônio reúne frases e desenhos rabiscados em guardanapos, produzidos em um tradicional bar do Rio de Janeiro. Amores, alegrias, [des]encantos, a leveza da vida, são apresentados pelo alter ego de Pedro Gabriel, que dá o seu tom ao que presencia nas noites boêmias. Posteriormente, foram publicados Segundo Eu me chamo Antônio e Ilustre poesia: Eu me chamo Antônio, em que fantasia e realidade estão presentes em busca do mesmo sentimento: liberdade.
2. Razões para ler Eu me chamo Antônio, de Pedro Gabriel.
Observar o que acontece ao redor e transpor para o papel, não falta inspiração no que nos cerca. Parece fácil, não? Pedro Gabriel acompanha o que acontece em um bar carioca e, entre amores que surgem e outros que terminam, transfere o que vê e sente. Em Eu me chamo Antônio, nome que poucas pessoas utilizam para chamar o autor, podemos perceber o personagem de um romance – e ler a obra linearmente, e acessar seus escritos em pequenas porções, “a poesia do dia” – ler aleatoriamente.
Em uma noite qualquer, Pedro Gabriel despretensiosamente escreveu em um guardanapo, material que tinha acesso: “Primeiro, encanto. Depois, desencanto. Por fim, cada um pro seu canto”. Utilizando a câmera do seu celular, fotografou e dia depois postou em seu perfil no Facebook. Do primeiro guardanapo surgiu um samba, também de sua autoria e disponível na página com o mesmo título do livro. Guardanapo após guardanapo, seu traço foi adquirindo confiança e utilizando palavras simples e impactantes, seus escritos são compartilhados por inúmeras pessoas.
Na introdução do primeiro livro é possível conhecer como surgiu a inspiração ao ser o leitor informado de que, em alguns momentos, a letra “acaba perdendo um pouquinho de sobriedade” e que por esse motivo há a legenda ao fim da obra de todos os escritos. Em uma linguagem simples e utilizando palavras impactantes que ganham contornos precisos, os poemas são divididos nas seguintes seções: À primeira vista; Encantado; Atire; Fragilidade Brutalidade; Retirada; Coragem; Acorda; Futuro, apresente-se; Liberdade; Desperte.
É perceptível quais poetas influenciam-no: Paulo Leminski, que também escrevia em guardanapos, e Mario Quintana. Pedro Gabriel nos provoca a produzir nossos poemas e dar leveza ao traço, deixando-nos conduzir pelo que inspira – e está logo ali: a vida, [des]amores (no plural, mesmo), a liberdade.
- Perguntas frequentes…
a. O que é ser um “desenhador de palavras”?
Considerando o traço e o estilo ao dar forma a uma palavra, Pedro Gabriel utiliza esse neologismo para esclarecer o porquê de não se considerar um poeta. Geralmente vemos a letra de um escritor em seus manuscritos, e é interessante perceber que a letra cursiva nos remete a um desenho, em que cada pessoa transmite um pouco de si no que coloca na folha, a escrita nos revela. Poderíamos depreender outros neologismos e atribuir ao escritor: “desenha-dor de palavras” e “desenhamor de palavras”, uma vez que seus escritos carregam desabafos de desilusões e expectativas de [novos] amores.
b. A poesia está em todos os lugares e Pedro Gabriel atribuiu seu olhar ao que encontrou em um bar carioca. Em quais outros cenários do cotidiano há poesia?
Se olharmos atentamente as principais produções de grandes poetas brasileiros, perceberemos algo em comum: a vida, em suas nuances e contrastes, nos quatro cantos do mundo, contém poesia.
c. O que Pedro Gabriel produz é Literatura? Sim? Não? Por quê?
Sim, é. É fundamental possibilitar a discussão entre professores e alunos sobre isso. Deve-se valorizar a literatura clássica, canônica, claro, mas não podemos diminuir a literatura contemporânea e que circula nos mais diversos espaços. Literatura é uma forma de arte, de expressão artística, segundo o pesquisador Vincent Jouve (2012), e, sendo assim, é possível identificar a intenção estética do autor em um certo número de traços, como a estrutura em versos, a rima – relacionando, então, à poesia, à literatura.
Eu me chamo Antônio, de Pedro Gabriel é da Editora Intrínseca.