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NEGATIVO, DE AUGUSTO MASSI: VAMOS DISCUTIR A RELAÇÃO?

NEGATIVO, DE AUGUSTO MASSI: VAMOS DISCUTIR A RELAÇÃO?

Margarete Maria Soares Bin

 

  1. Para começar…

…vale lembrar que a primeira vez “a gente nunca esquece”, foi assim também com Augusto Massi. Professor universitário, poeta e crítico literário, publicou seu primeiro livro de poemas denominado Negativo e só dez anos depois é que nasceu seu segundo livro, mesmo sem deixar de manter relações com a escrita nesse período. Negativo é um convite para você despir-se por entre as páginas, pois de alguma forma nelas você  “se encontra”. Mas atenção: Não vale parar no meio do caminho, o processo precisa ser lento, exige uma strip de corpo e alma!         O autor contribui para isso, pois seus poemas são uma provocação a nossa existência. As palavras são poucas, mas ficam ressoando em nossa cabeça, é mais do que interpretar, é incorporar – não tem jeito!

 

2. Razões para ler Negativo, de Augusto Massi

O reflexo de nossos atos se encontra nos versos despojados. Entre família, amigos, amores e desenganos, vão se tecendo nosso universo de interrogações, sem dó nem piedade! São tantas lacunas entre a vida e a morte… Espia, a capa nos dá ideia do que teremos pela frente. A estrutura do livro reflete que o jogo das cores preta e branca adquire grande importância na interpretação. Após, experimente, deleite-se a cada novo título, você se sentirá seduzido a não parar.

O quê? Parece deprimente, mórbido? Talvez, é o estilo contemporâneo de poetizar. Fique tranquilo, é um encontro casual, nada mais. Entretanto, é necessário que você se entregue, ou melhor: se joga nesta leitura pequena, porém intensa. Será um momento de intimidade, somente você e seu companheiro: o livro, é claro! (mesmo que Drummond esteja impregnado em algumas linhas).  Percebeu que não vai resistir? Senti um clima agora, você está quase convencido de que é muito importante para nós. Fique convicto de que isso fará você exibir o que há de melhor e aí quem sabe… Quem sabe?

 

3. Perguntas frequentes…

a. A escolha do título Negativo atrai ou afasta os leitores?

Não há dúvida de que a capa é um jogo de sedução proporcionado pelo título juntamente com a cor de fundo, pois instiga o leitor a querer saber o que as páginas irão revelar. Ao se deparar com o título o leitor sente-se provocado a seguir adiante, lendo a obra.

b. O autor publicou o livro em 1991, muitos leitores tem a idade do livro ou menos. O livro pode ser considerado atual?

Os temas presentes no livro são constantes, o autor é apaixonado por poesia e a partir dela consegue relacionar-se com leitores dispostos a refletirem sobre a existência.

c. Em uma das entrevistas concedidas pelo autor (Fundação Memorial da América Latina-SP) ele diz que “certos poemas pedem uma interpretação e a leitura neutra afasta o aluno”. Dessa forma, o autor acredita que uma das saídas seria o registro em gravações dos poemas pelos próprios poetas, isso permitiria perceber as pontuações, as pausas, os silêncios. Você acredita que isso ajudaria na interpretação do livro Negativo?

A leitura do poema pelo próprio autor seria uma estratégia interessante a fim de apimentar o significado do texto, pois ao participar ativamente de sua obra, a intenção é a de fazer com que o leitor aprecie e se envolva, o que proporciona melhor entendimento.

Negativo , de Augusto Massi, é da Editora Companhia das Letras.

Nossos coordenadores: a beleza múltipla.

Nossos coordenadores: a beleza múltipla.

                        “…é sempre por rizoma que o desejo se move e produz” 
                                                                                                    Deleuze & Guattari

 

Um dos aspectos que caracteriza a literatura contemporânea é a multiplicidade, seja pela diversidade diversidades de suportes e plataformas, seja pela maneira como códigos desdobrar-se rizomaticamente, em um processo de fuga criadora apartado de tutelas e de padrões. Se até os anos 80 havia um inimigo comum, a repressão, “os burgueses ou coronéis”, (CANEIRO, 2005) naquele momento vestindo o chumbo do Estado burocrático-autoritário, a pós-utopia perdia um caminho preciso de trânsito e um rosto definido de inimigo. A indústria cultural não era a alternativa da alienação, contra a qual se devia lutar, era uma portadora der múltiplas tendências em síntese dinâmica. Dela, surgiam as primeiras convergências do que viria a se tornar a arte algo sincrético, hibrido, contaminado por arranjos estéticos, por instalações verbais cruzadas por imagem e mesmo por sons, por uma literatura aberta e prospectiva, sem pudor no uso de suportes, sem receio de recuar ao cânone, sem desonra por curvar-se a fontes, quaisquer que fossem, das canônicas às desautorizadas. O escritor não apenas escreve, ele pode roteirizar para TV. O escritor faz poesia e letra de música popular, faz rock, joga futebol. Mesmo que perca a biografia de um resistente assumido e alinhado, mesmo que agora adotando às vezes a pacata vida acadêmica, os escritores e seus leitores são sujeitos em formação, e isso coloca a todos em um novo princípio de vida: o da realidade presente não engatilhada em função das utopias, mas comprimida para disparar ao futuro, que é sempre uma incógnita. E isso não deixa de ser uma forma de resistência, a que espera o que vem para reagir de alguma forma, sem modelos, sem padrões determinados, sem cartilhas.
A vos do poeta, assim e por exemplo, não se desaponta perante a semiose dos quadrinhos. Alice Ruiz, nova coordenadora do palco de debates da Jornada, que o diga e o mostre. Os quadrinhos eróticos de Afrodite, de Alice Ruiz e Paulo Leminski comprovam que as musas podem ser desenhadas e desnudadas pela semântica da liberdade (e até de alguma obscenidade). Na linha de uma perspectiva aberta, o jornalista, psicólogo, professor e provocador literário Felipe Pena é também apresentado como um dos novos coordenadores da Jornada, pelo livro O marido perfeito mora ao lado. Conhecido por engendrar o conceito de “subzero” nos estudos literários, denominando os escritores adorados pelos leitores, mas congelados pela crítica (o que desafia frontalmente a produção literária mais sofisticada e as instâncias críticas ligadas a elas), Pena narra os fatos do desejo hiante e ao mesmo tempo esboça as dinâmicas da sociedade contemporânea, nas quais as relações humanas desautorizam os limites e os códigos de conduta. Augusto Massi, poeta, crítico e jornalista, é apresentado por seu livro Negativo. Estética lírica de grande sensibilidade, a poesia de Massi faz entre o preto o branco um universo de interrogações regida pela contenção verbal, em textos curtos, mas profundos e agudos. Esses são os novos coordenadores das Jornada.
Nos posts seguir algumas leituras “incomp etas” das obras de Alice Ruiz, Felipe Pena e Augusto Massi.