Nossos coordenadores: a beleza múltipla.
“…é sempre por rizoma que o desejo se move e produz”
Deleuze & Guattari
Um dos aspectos que caracteriza a literatura contemporânea é a multiplicidade, seja pela diversidade diversidades de suportes e plataformas, seja pela maneira como códigos desdobrar-se rizomaticamente, em um processo de fuga criadora apartado de tutelas e de padrões. Se até os anos 80 havia um inimigo comum, a repressão, “os burgueses ou coronéis”, (CANEIRO, 2005) naquele momento vestindo o chumbo do Estado burocrático-autoritário, a pós-utopia perdia um caminho preciso de trânsito e um rosto definido de inimigo. A indústria cultural não era a alternativa da alienação, contra a qual se devia lutar, era uma portadora der múltiplas tendências em síntese dinâmica. Dela, surgiam as primeiras convergências do que viria a se tornar a arte algo sincrético, hibrido, contaminado por arranjos estéticos, por instalações verbais cruzadas por imagem e mesmo por sons, por uma literatura aberta e prospectiva, sem pudor no uso de suportes, sem receio de recuar ao cânone, sem desonra por curvar-se a fontes, quaisquer que fossem, das canônicas às desautorizadas. O escritor não apenas escreve, ele pode roteirizar para TV. O escritor faz poesia e letra de música popular, faz rock, joga futebol. Mesmo que perca a biografia de um resistente assumido e alinhado, mesmo que agora adotando às vezes a pacata vida acadêmica, os escritores e seus leitores são sujeitos em formação, e isso coloca a todos em um novo princípio de vida: o da realidade presente não engatilhada em função das utopias, mas comprimida para disparar ao futuro, que é sempre uma incógnita. E isso não deixa de ser uma forma de resistência, a que espera o que vem para reagir de alguma forma, sem modelos, sem padrões determinados, sem cartilhas.
A vos do poeta, assim e por exemplo, não se desaponta perante a semiose dos quadrinhos. Alice Ruiz, nova coordenadora do palco de debates da Jornada, que o diga e o mostre. Os quadrinhos eróticos de Afrodite, de Alice Ruiz e Paulo Leminski comprovam que as musas podem ser desenhadas e desnudadas pela semântica da liberdade (e até de alguma obscenidade). Na linha de uma perspectiva aberta, o jornalista, psicólogo, professor e provocador literário Felipe Pena é também apresentado como um dos novos coordenadores da Jornada, pelo livro O marido perfeito mora ao lado. Conhecido por engendrar o conceito de “subzero” nos estudos literários, denominando os escritores adorados pelos leitores, mas congelados pela crítica (o que desafia frontalmente a produção literária mais sofisticada e as instâncias críticas ligadas a elas), Pena narra os fatos do desejo hiante e ao mesmo tempo esboça as dinâmicas da sociedade contemporânea, nas quais as relações humanas desautorizam os limites e os códigos de conduta. Augusto Massi, poeta, crítico e jornalista, é apresentado por seu livro Negativo. Estética lírica de grande sensibilidade, a poesia de Massi faz entre o preto o branco um universo de interrogações regida pela contenção verbal, em textos curtos, mas profundos e agudos. Esses são os novos coordenadores das Jornada.
Nos posts seguir algumas leituras “incomp etas” das obras de Alice Ruiz, Felipe Pena e Augusto Massi.