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FELIPE PENA, O MARIDO PERFEITO MORA AO LADO, E AS PATRICINHAS NO DIVÃ.

FELIPE PENA, O MARIDO PERFEITO MORA AO LADO, E AS PATRICINHAS NO DIVÃ.

Gisela Lacourt

 

  1. Pra começar (ou continuar)…

O romance O marido perfeito mora ao lado, publicado em 2010, pela editora Record, de Felipe Pena, é um convite para o leitor se sentar num consultório psicológico, não para falar de seus problemas e das dores que lhe afligem a alma, mas para analisar personagens suspeitas do sequestro de um jovem estudante de psicologia no Rio de Janeiro. As discussões que compõem a trama do romance revelam parte da formação desse jovem escritor.

Felipe Pena é psicólogo e jornalista além de professor de jornalismo na Universidade Federal Fluminense. Ele tem o título de doutor em literatura pela PUC-Rio e pós-doutorado pela Sorbonne. Além da vasta e variada formação acadêmica, o autor de O marido perfeito mora ao lado tem experiência jornalística na televisão, pois foi repórter e apresentador na TV Manchete e comentarista na TVE-Brasil. Felipe Pena já publicou uma série de artigos acadêmicos e livro de não-ficção, mas se aventura também na literatura com alguns romances já publicados, entre eles O analfabeto que passou no vestibular.

 

  1. Razões para ler O marido perfeito mora ao lado, de Felipe Pena.

“Desejar é um verbo intransitivo. O desejo é autônomo, autossuficiente, independe do objeto desejado. Não que o objeto não seja importante, mas ele é apenas secundário diante da pulsão, que nunca se satisfaz”, Antônio Pastoriza, diretor da Faculdade de Psicologia, chega à conclusão de que não precisa dessa lógica lacaniana para compreender para as ações humanas. Professor Pastoriza se vê em meio a um crime de repercussão nacional, pois um dos alunos de Psicologia é sequestrado dentro do campus. O jovem estudante é filho de um rico empresário envolvido em esquemas de corrupção política. A trama se desenvolve em torno desse sequestro em que professores do curso e colegas do jovem figuram entre os suspeitos de arquitetarem o crime.

O romance apresenta personagens paradoxais e universos que se cruzam, colocando em pauta o comportamento humano. Meninas ricas ocupam seus dias com compras em shoppings exclusivos e com a venda de drogas para colegas de faculdade. Jovens ricas que usam as gírias da favela e se relacionam com traficantes. A narrativa é engendrada como se fosse um consultório psicanalítico, cada personagem que entra em cena, aos poucos, vai revelando o que se passa em seu íntimo. Independentemente da posição social que as personagens ocupam, grau de instrução ou condição financeira, elas se colocam em situações que fogem à racionalidade movidos pelo impulso, pelo desejo sempre insatisfeito.

Meninas de 20 anos desejam o professor, estagiários desejam as pacientes, homens milionários desejam mais dinheiro, criminosos desejam o controle de tudo, mesmo que isso comprometa outros esquemas mais vantajosos. O desejo nunca saciado. Já dizia o ditado: a grama do vizinho sempre é mais verde. Para o bem ou para o mal, é o desejo que move o mundo.

 

  1. Perguntas frequentes

a. O jornalista consegue se desvencilhar da escrita profissional para mergulhar na escrita literária?

O fato de o autor ser um jornalista, obviamente, não o impede de ser um escritor literário. Prova disso são os tantos escritores que exerciam a carreira jornalística e se tornaram autores aclamados. Jorge Luis Borges confirma essa tese, e sua obra não requer defesa acerca da sua qualidade literária. Um pouco mais próximo a nós, temos Luis Fernando Verissimo, que nos fascina com sua invenção criativa irreverente. Verissimo é mais um escritor que explora os efeitos de sentido da linguagem, mesclando a literatura e seu estilo jornalístico de forma muito rica. Do mesmo modo, Felipe Pena, em O marido perfeito mora ao lado, explora seu conhecimento jornalístico e psicanalítico para criar um romance com uma abordagem policial e analítica do comportamento humano.

b.Abordagem na literatura de temáticas atuais (corrupção, violência, falta de ética profissional) tem uma função social?

Embora o objetivo de uma obra literária não seja o de promover discussões acerca das temáticas do mundo real, essas discussões são possíveis já que os textos tratam das coisas do mundo. O marido perfeito mora ao lado retrata as realidades de jovens atuais que habitam ambientes muito próximos, mas ao mesmo tempo muito distantes. Nesse cenário temos o centro elitizado e a favela marginalizada que contracenam na obra, convidando o leitor a refletir sobre desigualdades sociais, violência, drogas e relacionando interpessoais.

O marido perfeito mora ao lado, de Felipe Pena, é da Editora Record.

 

Nossos coordenadores: a beleza múltipla.

Nossos coordenadores: a beleza múltipla.

                        “…é sempre por rizoma que o desejo se move e produz” 
                                                                                                    Deleuze & Guattari

 

Um dos aspectos que caracteriza a literatura contemporânea é a multiplicidade, seja pela diversidade diversidades de suportes e plataformas, seja pela maneira como códigos desdobrar-se rizomaticamente, em um processo de fuga criadora apartado de tutelas e de padrões. Se até os anos 80 havia um inimigo comum, a repressão, “os burgueses ou coronéis”, (CANEIRO, 2005) naquele momento vestindo o chumbo do Estado burocrático-autoritário, a pós-utopia perdia um caminho preciso de trânsito e um rosto definido de inimigo. A indústria cultural não era a alternativa da alienação, contra a qual se devia lutar, era uma portadora der múltiplas tendências em síntese dinâmica. Dela, surgiam as primeiras convergências do que viria a se tornar a arte algo sincrético, hibrido, contaminado por arranjos estéticos, por instalações verbais cruzadas por imagem e mesmo por sons, por uma literatura aberta e prospectiva, sem pudor no uso de suportes, sem receio de recuar ao cânone, sem desonra por curvar-se a fontes, quaisquer que fossem, das canônicas às desautorizadas. O escritor não apenas escreve, ele pode roteirizar para TV. O escritor faz poesia e letra de música popular, faz rock, joga futebol. Mesmo que perca a biografia de um resistente assumido e alinhado, mesmo que agora adotando às vezes a pacata vida acadêmica, os escritores e seus leitores são sujeitos em formação, e isso coloca a todos em um novo princípio de vida: o da realidade presente não engatilhada em função das utopias, mas comprimida para disparar ao futuro, que é sempre uma incógnita. E isso não deixa de ser uma forma de resistência, a que espera o que vem para reagir de alguma forma, sem modelos, sem padrões determinados, sem cartilhas.
A vos do poeta, assim e por exemplo, não se desaponta perante a semiose dos quadrinhos. Alice Ruiz, nova coordenadora do palco de debates da Jornada, que o diga e o mostre. Os quadrinhos eróticos de Afrodite, de Alice Ruiz e Paulo Leminski comprovam que as musas podem ser desenhadas e desnudadas pela semântica da liberdade (e até de alguma obscenidade). Na linha de uma perspectiva aberta, o jornalista, psicólogo, professor e provocador literário Felipe Pena é também apresentado como um dos novos coordenadores da Jornada, pelo livro O marido perfeito mora ao lado. Conhecido por engendrar o conceito de “subzero” nos estudos literários, denominando os escritores adorados pelos leitores, mas congelados pela crítica (o que desafia frontalmente a produção literária mais sofisticada e as instâncias críticas ligadas a elas), Pena narra os fatos do desejo hiante e ao mesmo tempo esboça as dinâmicas da sociedade contemporânea, nas quais as relações humanas desautorizam os limites e os códigos de conduta. Augusto Massi, poeta, crítico e jornalista, é apresentado por seu livro Negativo. Estética lírica de grande sensibilidade, a poesia de Massi faz entre o preto o branco um universo de interrogações regida pela contenção verbal, em textos curtos, mas profundos e agudos. Esses são os novos coordenadores das Jornada.
Nos posts seguir algumas leituras “incomp etas” das obras de Alice Ruiz, Felipe Pena e Augusto Massi.