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Autor: Miguel Rettenmaier

P rte 2 A leitura além dos limites: literatura e imagem.

P rte 2 A leitura além dos limites: literatura e imagem.

“… viver significa ver. A visão é limitada por uma dupla fronteira: a luz intensa, que cega, e a escuridão total.”

Milan Kundera

 

A absoluta presença das mídias de imagem na sociedade atual obriga a uma associação direta e imediata entre leitura e percepção, e isso implica colocar sob uma pluralidade conceitual o que se entende por ler e por constituir sentidos. Para Robert Darnton (2011), “a leitura não é simplesmente uma habilidade, mas uma maneira de estabelecer significado”, numa ordem compreensiva que, na cultura contemporânea, atinge a multiplicidade de plataformas da mesma forma como se irradia para uma diversidade de códigos em distintas matrizes interpretativas. O não-verbal contamina-se com o verbal produzindo novos gêneros discursivos, a imagem se verbaliza e se movimentam, o real se torna um confronto incessante de representação, as quais dialogam entre si, refletem, deformam, reformam e reparam nossa percepção da vida: conforme Santaella (2012) são os signos, a linguagem “a única e magna forma de síntese que dispomos para a ligação entre o exterior e o interior, entre o mundo lá fora e o que se passa dentro deste mundo interior”.  Em se tratando das signos em imagens, Johnson (2001) ainda observa que somos fixados na imagem “não porque tenhamos perdido a fé na realidade, mas porque as imagens têm agora enorme impacto sobre a realidade”.

A noção de imagem, de qualquer forma, tem relação com nossos processos mentais. Segundo Costa (2009), a variabilidade de sentidos para a palavra imagem envolve a percepção visual do mundo que nos cerca e a imaginação, como síntese perceptiva produzida em nossa mente, sendo, portanto, subjetiva, criada por nossa “sensibilidade e ponto de vista” (Costa, 2009). Essa imagem, como base dos processos mentais, abstratos e cognitivos, permitiria a reflexão, a memória, as avaliações e, também, em um âmbito intersubjetivo, o compartilhamento dos objetos internos. Esse intercâmbio de visões de mundo, por meio da linguagem e dos signos, é o fundamento da cultura, associada às capacidades de expressão e de leitura, indispensáveis à comunicação. Desse aspecto surge uma terceira acepção à imagem: a que diz respeito ao que é produzido pelo ser humano para expressar-se. A expressão da subjetividade pelas linguagens gráficas e visuais permite experiências coletivas. Assim, as imagens desenham, focalizam, compreendem e organizam o mundo. Mas isso não é o bastante, as imagens servem para imaginar outros mundos e outras formas de ser no mundo. As imagens imaginam…

Se tudo isso torna a compreensão da imagem algo complexo, o universo da contemporaneidade potencializa a problemática ao atirar em doses industrias saraivadas de signos por toda a parte, desde a mais singela placa informativa ao mais possante aplicativo para mobile. Na realidade, as imagens e os demais códigos comunicativos passam por convergências e sincretismos. De um lado, códigos de tipos distintos passam a ocupar territórios e plataformas comuns ao serem digitalizados em ambientes saturados de signos em fluxo, em uma era chamada de pós-imagética ou hipermidiática, de natureza também interativa, móvel e ubíqua; por outro lado, pela proximidade de tantas referências, a força sincrética das manifestações colabora para a compreensão uma nova ordem de processos mentais, interpretativos e expressivos. A linguagem híbrida, que se apropriava no mínimo de dois sistemas comunicacionais (os enunciados visuais e os enunciados verbais) nos investimentos discursivos do marketing e da publicidade, o que lhes garantia alto poder de persuasão, agora é uma referência expressiva acessível a qualquer usuário da rede. Isso torna a expressão e a arte livres de coerções, já que quase tudo, em termos de expressão, é possível. Assim, as fontes não mais se limitam às delimitações estéticas, tipológicas, ambientais. Uma nova ecologia de códigos intercambiantes contamina os espaços íntimos ou particulares, sem definição precisa entre eles. Essa mesma indefinição torna impossível qualquer fronteira que impossibilite o contato intercultural, interlinguístico. Para  Canevacci (2013), como um  “vírus,  o sincretismo é um contágio, é “ubíquo, pidgin”, como se fosse uma forma de comunicação espontaneamente criada a partir da mistura de duas ou mais línguas, de duas ou mais linguagens.  Na sociedade “glocal”, que mistura local e global, a imagem contaminada, sem assepsias, é língua com grande eficiência de sentido.

Escrevendo e desenhado, em mesa de bar Pedro Gabriel tornou-se um fenômeno nas redes sociais ao postar suas produções, poesias escritas/desenhadas à mão em guardanapos de papel, as quais tratam de amor, de ausência, de paixão, de solidão. Sem se preocupar com a simplicidade de alguns trocadilhos e de algumas outras figuras, o autor mistura a simplicidade da linguagem à singularidade do “arabesco” de alguns ou da maioria de seus traços (que lembram até pichações invasoras). A simplicidade também é um termo pouco alinhado à obra de Rafael Coutinho, principalmente em se tratando de linha narrativa. No romance gráfico Mensur, Coutinho trabalha com a linha de personagens romanescas nômades e degradadas, em um conflito que mistura linhas de tempo à memória traumatizada do herói. Gringo é um adepto de uma luta de espadas surgida há séculos na Europa. Seu rosto ostenta cicatrizes, sua alma também. W, romance de Roger Melo, um dos maiores ilustradores do mundo, sua primeira produção para adultos, alia o tema da cartografia, como representação gráfica, aos segredos das rotas nas grandes navegações. Um dos mapas é tão secreto que se encontra tatuado nas costas do protagonista. O maior segredo da obra, contudo, se encontra na desorientação que reserva à recepção.

O que se tem, nesse conjunto e obras é quase uma advertência sobre o traço de complexidade que é essência da imagem artística contemporânea. A ilustração joga com sentidos que exigem da recepção um olhar atento e sensível ao que provoca esse redesenho do mundo. Levando as representações mentais ao um jogo intenso de compartilhamento, novos sentidos surgem, novas maneiras de compor o humano, o ser, o ler.

 

Miguel Rettenmaier

Fabiane Verardi Burlamaque

 

NEGATIVO, DE AUGUSTO MASSI: VAMOS DISCUTIR A RELAÇÃO?

NEGATIVO, DE AUGUSTO MASSI: VAMOS DISCUTIR A RELAÇÃO?

Margarete Maria Soares Bin

 

  1. Para começar…

…vale lembrar que a primeira vez “a gente nunca esquece”, foi assim também com Augusto Massi. Professor universitário, poeta e crítico literário, publicou seu primeiro livro de poemas denominado Negativo e só dez anos depois é que nasceu seu segundo livro, mesmo sem deixar de manter relações com a escrita nesse período. Negativo é um convite para você despir-se por entre as páginas, pois de alguma forma nelas você  “se encontra”. Mas atenção: Não vale parar no meio do caminho, o processo precisa ser lento, exige uma strip de corpo e alma!         O autor contribui para isso, pois seus poemas são uma provocação a nossa existência. As palavras são poucas, mas ficam ressoando em nossa cabeça, é mais do que interpretar, é incorporar – não tem jeito!

 

2. Razões para ler Negativo, de Augusto Massi

O reflexo de nossos atos se encontra nos versos despojados. Entre família, amigos, amores e desenganos, vão se tecendo nosso universo de interrogações, sem dó nem piedade! São tantas lacunas entre a vida e a morte… Espia, a capa nos dá ideia do que teremos pela frente. A estrutura do livro reflete que o jogo das cores preta e branca adquire grande importância na interpretação. Após, experimente, deleite-se a cada novo título, você se sentirá seduzido a não parar.

O quê? Parece deprimente, mórbido? Talvez, é o estilo contemporâneo de poetizar. Fique tranquilo, é um encontro casual, nada mais. Entretanto, é necessário que você se entregue, ou melhor: se joga nesta leitura pequena, porém intensa. Será um momento de intimidade, somente você e seu companheiro: o livro, é claro! (mesmo que Drummond esteja impregnado em algumas linhas).  Percebeu que não vai resistir? Senti um clima agora, você está quase convencido de que é muito importante para nós. Fique convicto de que isso fará você exibir o que há de melhor e aí quem sabe… Quem sabe?

 

3. Perguntas frequentes…

a. A escolha do título Negativo atrai ou afasta os leitores?

Não há dúvida de que a capa é um jogo de sedução proporcionado pelo título juntamente com a cor de fundo, pois instiga o leitor a querer saber o que as páginas irão revelar. Ao se deparar com o título o leitor sente-se provocado a seguir adiante, lendo a obra.

b. O autor publicou o livro em 1991, muitos leitores tem a idade do livro ou menos. O livro pode ser considerado atual?

Os temas presentes no livro são constantes, o autor é apaixonado por poesia e a partir dela consegue relacionar-se com leitores dispostos a refletirem sobre a existência.

c. Em uma das entrevistas concedidas pelo autor (Fundação Memorial da América Latina-SP) ele diz que “certos poemas pedem uma interpretação e a leitura neutra afasta o aluno”. Dessa forma, o autor acredita que uma das saídas seria o registro em gravações dos poemas pelos próprios poetas, isso permitiria perceber as pontuações, as pausas, os silêncios. Você acredita que isso ajudaria na interpretação do livro Negativo?

A leitura do poema pelo próprio autor seria uma estratégia interessante a fim de apimentar o significado do texto, pois ao participar ativamente de sua obra, a intenção é a de fazer com que o leitor aprecie e se envolva, o que proporciona melhor entendimento.

Negativo , de Augusto Massi, é da Editora Companhia das Letras.

FELIPE PENA, O MARIDO PERFEITO MORA AO LADO, E AS PATRICINHAS NO DIVÃ.

FELIPE PENA, O MARIDO PERFEITO MORA AO LADO, E AS PATRICINHAS NO DIVÃ.

Gisela Lacourt

 

  1. Pra começar (ou continuar)…

O romance O marido perfeito mora ao lado, publicado em 2010, pela editora Record, de Felipe Pena, é um convite para o leitor se sentar num consultório psicológico, não para falar de seus problemas e das dores que lhe afligem a alma, mas para analisar personagens suspeitas do sequestro de um jovem estudante de psicologia no Rio de Janeiro. As discussões que compõem a trama do romance revelam parte da formação desse jovem escritor.

Felipe Pena é psicólogo e jornalista além de professor de jornalismo na Universidade Federal Fluminense. Ele tem o título de doutor em literatura pela PUC-Rio e pós-doutorado pela Sorbonne. Além da vasta e variada formação acadêmica, o autor de O marido perfeito mora ao lado tem experiência jornalística na televisão, pois foi repórter e apresentador na TV Manchete e comentarista na TVE-Brasil. Felipe Pena já publicou uma série de artigos acadêmicos e livro de não-ficção, mas se aventura também na literatura com alguns romances já publicados, entre eles O analfabeto que passou no vestibular.

 

  1. Razões para ler O marido perfeito mora ao lado, de Felipe Pena.

“Desejar é um verbo intransitivo. O desejo é autônomo, autossuficiente, independe do objeto desejado. Não que o objeto não seja importante, mas ele é apenas secundário diante da pulsão, que nunca se satisfaz”, Antônio Pastoriza, diretor da Faculdade de Psicologia, chega à conclusão de que não precisa dessa lógica lacaniana para compreender para as ações humanas. Professor Pastoriza se vê em meio a um crime de repercussão nacional, pois um dos alunos de Psicologia é sequestrado dentro do campus. O jovem estudante é filho de um rico empresário envolvido em esquemas de corrupção política. A trama se desenvolve em torno desse sequestro em que professores do curso e colegas do jovem figuram entre os suspeitos de arquitetarem o crime.

O romance apresenta personagens paradoxais e universos que se cruzam, colocando em pauta o comportamento humano. Meninas ricas ocupam seus dias com compras em shoppings exclusivos e com a venda de drogas para colegas de faculdade. Jovens ricas que usam as gírias da favela e se relacionam com traficantes. A narrativa é engendrada como se fosse um consultório psicanalítico, cada personagem que entra em cena, aos poucos, vai revelando o que se passa em seu íntimo. Independentemente da posição social que as personagens ocupam, grau de instrução ou condição financeira, elas se colocam em situações que fogem à racionalidade movidos pelo impulso, pelo desejo sempre insatisfeito.

Meninas de 20 anos desejam o professor, estagiários desejam as pacientes, homens milionários desejam mais dinheiro, criminosos desejam o controle de tudo, mesmo que isso comprometa outros esquemas mais vantajosos. O desejo nunca saciado. Já dizia o ditado: a grama do vizinho sempre é mais verde. Para o bem ou para o mal, é o desejo que move o mundo.

 

  1. Perguntas frequentes

a. O jornalista consegue se desvencilhar da escrita profissional para mergulhar na escrita literária?

O fato de o autor ser um jornalista, obviamente, não o impede de ser um escritor literário. Prova disso são os tantos escritores que exerciam a carreira jornalística e se tornaram autores aclamados. Jorge Luis Borges confirma essa tese, e sua obra não requer defesa acerca da sua qualidade literária. Um pouco mais próximo a nós, temos Luis Fernando Verissimo, que nos fascina com sua invenção criativa irreverente. Verissimo é mais um escritor que explora os efeitos de sentido da linguagem, mesclando a literatura e seu estilo jornalístico de forma muito rica. Do mesmo modo, Felipe Pena, em O marido perfeito mora ao lado, explora seu conhecimento jornalístico e psicanalítico para criar um romance com uma abordagem policial e analítica do comportamento humano.

b.Abordagem na literatura de temáticas atuais (corrupção, violência, falta de ética profissional) tem uma função social?

Embora o objetivo de uma obra literária não seja o de promover discussões acerca das temáticas do mundo real, essas discussões são possíveis já que os textos tratam das coisas do mundo. O marido perfeito mora ao lado retrata as realidades de jovens atuais que habitam ambientes muito próximos, mas ao mesmo tempo muito distantes. Nesse cenário temos o centro elitizado e a favela marginalizada que contracenam na obra, convidando o leitor a refletir sobre desigualdades sociais, violência, drogas e relacionando interpessoais.

O marido perfeito mora ao lado, de Felipe Pena, é da Editora Record.

 

AFRODITE – QUADRINHOS ERÓTICOS, DE ALICE RUIZ E PAULO LEMINSKI: UMA LEITURA PROVOCANTE.

AFRODITE – QUADRINHOS ERÓTICOS, DE ALICE RUIZ E PAULO LEMINSKI: UMA LEITURA PROVOCANTE.

 

Silvani Lopes Lima

 

 

1. Pra começar (ou continuar)…

 

Alice Ruiz (1946) e Paulo Leminski (1944 – 1989), ambos paranaenses de Curitiba, foram casados por quase vinte anos e tiveram três filhos. Além de poetas, foram sempre muito ligados ao cenário musical brasileiro, possuindo várias composições e tendo participado de alguns projetos musicais.

Conforme dados recuperados por Murgel (2010), Alice conheceu Paulo em na festa de aniversário de 24 anos deste, em 1968. Ela voltara há pouco de uma estada de dois anos no Rio de Janeiro, onde tomara contato com o Movimento Tropicalista; ele estava imerso em vários projetos artísticos e literários. Ambos sentiram logo uma cumplicidade e afinidade intelectual muito grande. Com Leminski, Ruiz pôde compartilhar do interesse e conhecimento sobre os haikais, sobre o que ela ainda não ouvira falar, e descobre, surpresa, que alguns de seus escritos se identificavam com aquele tipo poesia.

Depois de casados, por algum tempo, Paulo trabalha como professor, jornalista/publicitário e escritor e Alice dedica-se ao cuidado da casa e dos filhos. Porém, logo ela se dá conta de que precisa começar a produzir, colocar em prática suas ideias feministas e emancipatórias, dando exemplo à filha que criava. Começa então a escrever artigos para revistas e jornais locais. Logo em seguida, no início dos anos 70, o casal se torna redator de uma revista e nos anos subsequentes trabalham em revistas e agências de publicidade da capital paranaense.

Em 1978, Alice passa a escrever para as revistas da editora-gráfica Grafipar e Paulo contribui com alguns escritos. Vaz (2001, p. 153) lembra que “a gráfica editava uma profusão de pequenas publicações, sendo que uma delas, chamada Peteca, permitia contos eróticos e horóscopos picantes”. Na redação da Grafipar, Alice passou a escrever ensaios e histórias em quadrinhos. São desse período as histórias em quadrinhos (HQs) reunidas na obra Afrodite: quadrinhos eróticos, que além de conter roteiros primorosos do casal de poetas curitibanos, trazem ilustrações de alguns dos maiores quadrinistas do Brasil, reunindo nomes como Júlio Shimamoto, Claudio Seto e Flávio Colin.

 

 

  1. Razões para ler Afrodite: quadrinhos eróticos, de Alice Ruiz e Paulo Leminski.

 

Uma chave de leitura indispensável para esta obra está nas informações contidas em seu prefácio. Sem um conhecimento mais aprofundado sobre a obra e a trajetória intelectual e artística dos autores, não é possível alcançar a origem dos textos reunidos na obra e nem compreender o seu contexto de produção. Daí a importância de partirmos dessa chave de leitura que a autora Alice Ruiz nos dá.

Afrodite: quadrinhos eróticos é a reunião de uma seleção de textos em formato de HQs produzidos na década de 1970, com roteiros de Alice Ruiz e Paulo Leminski e ilustrações de vários quadrinistas que produziam para a editora-gráfica Grafipar, em Curitiba, no estado do Paraná. Ruiz (2015, p. 10) afirma que, na época, à exceção de uma revista que falava “mais seriamente de temas da época”, as demais revistas da editora todas tinham o sexo como “tempero principal”, e que atrelar as produções a esse tema era uma estratégia de sobrevivência do grupo. Da revista Eros, uma produção da editora voltada para o universo masculino, surge o anagrama Rose, nome atribuído a uma nova proposta de revista que se volta para o público feminino. Nesta, as redatoras, entre elas Ruiz, ousaram mostrar, pioneiramente, a nudez masculina, ainda que com alguma censura. Entre os variados temas da revista, estava a astrologia, do qual deriva outra produção específica, a Horóscopo de Rose. Porém como as HQs eram o ponto alto da produção da Grafipar, logo Ruiz se vê seduzida por aquele universo e, a partir de um insight provocado por suas leituras de Dalton Trevisan, começa a criar roteiros para as HQs.  Para a Horóscopo de Rose, produz uma série de roteiros em torno da mitologia grega, enfocando os deuses relacionados com os planetas regentes. Nessa produção, usa o pseudônimo de Urânia e conta com a contribuição de Leminski em alguns números, que adota pseudônimos como Professor Hamurabi, entre outros. Além desta revista, o casal Ruiz e Leminski produz ativamente para outras revistas da Grafipar, em sua grande maioria voltadas para o público feminino, com abordagem de “temas do momento, ou os que [lhes] pareciam mais urgentes no processo de conscientização da mulher” (RUIZ, 2015, p. 12).

De posse das informações elencadas, acessamos mais facilmente a obra em análise, a qual reúne vinte e três histórias, dezesseis delas roteirizadas por Alice Ruiz e as demais com roteiros de Paulo Leminski. Os textos foram retirados de cinco diferentes revistas da Grafipar: Rose, Maria Erótica, Aventuras em quadrinhos, Horóscopo de Rose e Neuros, desta incluindo duas que foram republicadas na “Coleção Erótica Gigante”.

O que as HQs reunidas na obra têm em comum? Quase na sua totalidade, elas apresentam roteiros que abordam de forma mais ou menos direta o sexo – por meio do desejo sexual, do amor sensual ou dos fracassos amorosos/sexuais –, além de apresentar ilustrações bastantes sexualizadas, com nus humanos e reprodução de cenas mais ou menos explícitas de relações sexuais, por vezes acompanhadas de interjeições que remetem ao ato sexual em si. Também é recorrente a alusão às temáticas feministas nas histórias, que, como mencionado, era o enfoque de muitas das revistas em questão. Isso é perceptível, por exemplo, nos próprios títulos de algumas delas, tais como “Eu sei o que ela está precisando”, “Os homens me chamam de Vênus” e “Cobra com mulher”. No primeiro título, a expressão utilizada tornou-se cristalizada no universo masculino machista, entre homens que julgam saber “o que as mulheres precisam”; ou a segunda expressão que alude às diferenças antitéticas entre o comportamento masculino e o feminino, tais como os homens serem de marte (deus da guerra) e as mulheres, de vênus (deusa do amor); ou ainda na expressão “ser cobra”, mais uma vez remetendo ao homem que se julga especialista no “assunto mulher”.

Avançando em uma análise rápida dos títulos das histórias, há outros bastantes sugestivos, tais como “Pecadinho”, “No inferno com você” ou “Sinal verde para o prazer”, que provocam o leitor para saber o que há por trás dessas legendas. Há também aqueles que evidenciam de maneira bem explícita o intertexto com outra obra, como “Um índio virá de uma estrela”, título de uma canção do álbum Bicho, de Caetano Veloso, de 1977.

Com profusas possibilidades interpretativas, Afrodite: quadrinhos eróticos reúne textos que exploram elementos eróticos com sutileza, leveza e profundidade crítica, sem descambar em momento algum para a vulgaridade, tornando-se uma leitura extremamente prazerosa. Nas HQs retiradas de Horóscopo de Rose e Maria Erótica, adentramos, encantados, o mundo dos deuses gregos, de suas vaidades e seus amores. Nos textos de Rose e Neuros, notamos como, de uma maneira sutil e/ou irônica, a pretensão masculina é descontruída. Em “Um índio virá de uma estrela”, de Aventuras em quadrinhos, vemos o sarcasmo em relação à fracassada civilização humana. Enfim, sem nos alongarmos em análises mais aprofundadas, pois não é nossa intenção roubar o prazer da descoberta do leitor, fica o convite para essa provocante, ousada e surpreendente leitura.

3.       Perguntas frequentes…

 

 

a. O que o casal Ruiz e Leminski representam no movimento de contracultura no Brasil?

 Antes de pensar o que o casal de poetas curitibanos representa no movimento de contracultura no Brasil, é preciso entender o que foi esse movimento. Em linhas gerais, tratou-se de um movimento de caráter internacional, que surge nos anos 60 e 70 encabeçado por jovens de diversas partes do mundo que, aproveitando um momento de grandes transformações sociais, principalmente após os acontecimentos de maio de 68 na França, decidem se posicionar criticamente (opondo-se) ao consumo desenfreado promovido pela sociedade capitalista, ao apego material, à moral pregada pela sociedade da época, aos padrões estéticos vigentes, entre outras questões. Os jovens que integraram esse movimento externavam suas críticas e contestavam os valores daquela sociedade através do modo de vestir – com roupas e penteados fora do “padrão” –, do consumo de drogas, do propagação e consumo do estilo musical Rock and roll, de uma postura underground, por meio do que afirmavam uma atitude irreverente. A arte e a música, nesse contexto, permitiam expressar suas posições e suas alternativas de vida.

No Brasil, essa onda contestatória se fortalece através do grupo chamado de “Tropicália”, que contava com artistas como Gilberto Gil, Caetano Veloso, Gal Costa e Tom Zé. Esse movimento musical inovou bastante a música popular brasileira, trazendo em suas letras versos que rompiam com o tipo de música feito até então. Em suas roupas e estilos percebia-se a influência do estilo hippie que contestava os padrões elitistas da sociedade. Mais tarde, essas inovações inspiraram outros artistas brasileiros, como Raul Seixas, Legião Urbana, Paralamas do Sucesso, Titãs, etc.

Nesse contexto, o casal Alice Ruiz e Paulo Leminski, amigos pessoais dos tropicalistas e de outros artistas do cenário nacional (inclusive como letristas de canções famosas), demonstraram logo uma atitude e uma produção artística que se identificava com o movimento de Contracultura, já que suas letras musicais e sua poesia evidenciavam uma maneira de criar fora dos padrões dominantes. Leminski possuía uma personalidade inquieta e multifacetada, atuando como poeta, letrista de música, romancista, ensaísta, roteirista, etc., colaborou em diversos segmentos da vida intelectual e artística de Curitiba e do país. Com uma literatura experimental, além do romance Catatau (1975), inspirado na literatura modernista de vanguarda, esteve entre os poucos poetas nacionais que conseguiram traduzir para a língua portuguesa a força dos haicais japoneses, poemas curtos (geralmente compostos por apenas três versos). Leminski, além de pioneiro, é um dos mais bem-sucedidos criadores de haicais no Brasil, juntamente com a poeta Alice Ruiz. Alice, da mesma maneira, faz contato com os tropicalistas desde o início do movimento e mais tarde, ao conhecer Paulo, divide com ele a efervescência intelectual da década de 70 e 80. A escritora também colabora com diversos suplementos literários a partir da década de 70, com uma literatura contestadora e muito engajada com a causa feminista. Ruiz faz parte de uma geração de artistas brasileiros que viveu a contracultura e construiu a sua obra em meio a grupos ligados a esse movimento, como o modernismo, o concretismo, a Tropicália, entre outros. Sua obra já foi considerada “insubmissa e inventiva, lírica e imprevista, fluente e musical, irônica, bem-humorada, brutalmente sensível”, estando “entre as vozes mais originais da poesia brasileira contemporânea”. (POETA, 2015)

 

b. Da década de 70 do século XX à atualidade, houve uma mudança de paradigmas na sociedade brasileira no que se refere ao tema do feminismo?

Para respondermos a esta questão é preciso retomarmos, rapidamente, o surgimento e a história do movimento feminista. Estudiosos do movimento falam em dois feminismos: um primeiro emancipacionista, que surge no século XIX, e um segundo, contemporâneo, que surge em meados do século XX. O feminismo emancipacionista tem na Inglaterra seu centro irradiador e gira em torno do direito de igualdade jurídica das mulheres em relação aos homens. Destaca-se aí o pensador inglês Stuart Mill que apresenta as primeiras teses em favor dos direitos das mulheres, reivindicando abolição da desigualdade no núcleo familiar, a igualdade de acesso aos postos de trabalho e de acesso aos níveis instrucionais para elas. O feminismo contemporâneo assenta-se no movimento surgido em meados da década de 60 do século XX e requer o direito à “libertação” da mulher, o que implica superar a questão da igualdade e ganhar o respeito à alteridade, ou seja, a mulher deve ser respeitada na sua singularidade quando atinge a igualdade jurídica, pois se verifica que mesmo nessas condições ela continua em situação de opressão. É nesse momento que algumas mulheres se projetam como líderes feministas, caso de Simone de Beauvoir, que tem inspirado e fundamentado a luta feminista até hoje. No Brasil, as lutas feministas tem alguns episódios mais notórias a partir do início do século XX, mas é apenas em 1946 que o direito ao voto e à candidatura de mulher à política, por exemplo, são garantidos na constituição. Nos anos 60 e 70, mais alguns avanços acontecem, entre os quais estão a criação da Fundação das Mulheres do Brasil, a aprovação da lei do divórcio e a criação do Movimento Feminino Pela Anistia no ano de 1975, considerado o Ano Internacional da Mulher, com debates sobre a condição feminina. Nos anos 80, foi criado o Conselho Nacional dos Direitos da Mulher, que passaria à Secretaria de Estado dos Direitos da Mulher e, mais tarde, a ter status ministerial como Secretaria de Política para as Mulheres. Todavia, é importante ressaltar que, a partir da década de 60, o movimento incorporou questões ainda não resolvidas em pleno século XXI, as quais necessitam avanços para alcançar condições plenas, entre elas o acesso a métodos contraceptivos, a saúde preventiva da mulher, a igualdade entre homens e mulheres, a proteção à mulher contra a violência doméstica, a equiparação salarial, o apoio em casos de assédio, entre tantos outros temas ligados à condição da mulher. Vemos que hoje, embora a mulher tenha condições de igualdade jurídica em relação a direitos políticos, educacionais, trabalhistas, etc., ainda não alcançou o tão almejado respeito no que se refere à sua alteridade.

c. Diante da constatação de que o sexo ainda é tema tabu, cabe a questão: Por que, em uma sociedade que se julga pós-moderna, continuamos temendo a revolução sexual?

A resposta a esta questão tem relação com a questão anterior, ou seja, verificamos que o machismo continua extremante enraizado em nossa cultura e isso faz com que não somente homens como mulheres primeiro não acreditem em condições plenas de igualdade (inclusive no respeito às diferenças) de gênero, assim como também temem que as mulheres possam vir a subjugar os homens, algo que extremamente perigosos para a nossa atual organização social. Daí que existam os mais diversos mitos quanto ao feminismo e, em especial em relação à questão da sexualidade, tais como de que homossexuais sofram de uma doença que deva ser curada, que a convivência com homossexuais, bissexuais, transexuais ou com pessoas que sejam libertas sexualmente seja pernicioso. Nesse sentido, a obra de Ruiz e Leminski, por apresentar conteúdo erótico, possui um grande potencial para desfazer preconceitos, ao trabalhar com cenas de nudez e de sexo de forma muito natural e apresentar roteiros que vão descontruindo ideias cristalizadas sobre o comportamento masculino e feminino em nossa sociedade.

Afrodite: quadrinhos eróticos, de Alice Ruiz e Paulo Leminski, é da Editora Veneta.

 

Nossos coordenadores: a beleza múltipla.

Nossos coordenadores: a beleza múltipla.

                        “…é sempre por rizoma que o desejo se move e produz” 
                                                                                                    Deleuze & Guattari

 

Um dos aspectos que caracteriza a literatura contemporânea é a multiplicidade, seja pela diversidade diversidades de suportes e plataformas, seja pela maneira como códigos desdobrar-se rizomaticamente, em um processo de fuga criadora apartado de tutelas e de padrões. Se até os anos 80 havia um inimigo comum, a repressão, “os burgueses ou coronéis”, (CANEIRO, 2005) naquele momento vestindo o chumbo do Estado burocrático-autoritário, a pós-utopia perdia um caminho preciso de trânsito e um rosto definido de inimigo. A indústria cultural não era a alternativa da alienação, contra a qual se devia lutar, era uma portadora der múltiplas tendências em síntese dinâmica. Dela, surgiam as primeiras convergências do que viria a se tornar a arte algo sincrético, hibrido, contaminado por arranjos estéticos, por instalações verbais cruzadas por imagem e mesmo por sons, por uma literatura aberta e prospectiva, sem pudor no uso de suportes, sem receio de recuar ao cânone, sem desonra por curvar-se a fontes, quaisquer que fossem, das canônicas às desautorizadas. O escritor não apenas escreve, ele pode roteirizar para TV. O escritor faz poesia e letra de música popular, faz rock, joga futebol. Mesmo que perca a biografia de um resistente assumido e alinhado, mesmo que agora adotando às vezes a pacata vida acadêmica, os escritores e seus leitores são sujeitos em formação, e isso coloca a todos em um novo princípio de vida: o da realidade presente não engatilhada em função das utopias, mas comprimida para disparar ao futuro, que é sempre uma incógnita. E isso não deixa de ser uma forma de resistência, a que espera o que vem para reagir de alguma forma, sem modelos, sem padrões determinados, sem cartilhas.
A vos do poeta, assim e por exemplo, não se desaponta perante a semiose dos quadrinhos. Alice Ruiz, nova coordenadora do palco de debates da Jornada, que o diga e o mostre. Os quadrinhos eróticos de Afrodite, de Alice Ruiz e Paulo Leminski comprovam que as musas podem ser desenhadas e desnudadas pela semântica da liberdade (e até de alguma obscenidade). Na linha de uma perspectiva aberta, o jornalista, psicólogo, professor e provocador literário Felipe Pena é também apresentado como um dos novos coordenadores da Jornada, pelo livro O marido perfeito mora ao lado. Conhecido por engendrar o conceito de “subzero” nos estudos literários, denominando os escritores adorados pelos leitores, mas congelados pela crítica (o que desafia frontalmente a produção literária mais sofisticada e as instâncias críticas ligadas a elas), Pena narra os fatos do desejo hiante e ao mesmo tempo esboça as dinâmicas da sociedade contemporânea, nas quais as relações humanas desautorizam os limites e os códigos de conduta. Augusto Massi, poeta, crítico e jornalista, é apresentado por seu livro Negativo. Estética lírica de grande sensibilidade, a poesia de Massi faz entre o preto o branco um universo de interrogações regida pela contenção verbal, em textos curtos, mas profundos e agudos. Esses são os novos coordenadores das Jornada.
Nos posts seguir algumas leituras “incomp etas” das obras de Alice Ruiz, Felipe Pena e Augusto Massi.

Introd ção: Nem tudo precisa estar pronto, nem completo, para ser algo

Introd ção: Nem tudo precisa estar pronto, nem completo, para ser algo

É certo que o leitor, ao observar, mesmo sem muito cuidado, o título deste blog, que ainda será livro ou os Cadernos “incompletos” de leitura da 16ª Jornada Nacional de Literatura de Passo Fundo. haverá de estranhar a falta de letras, um possível descuido dos autores, da editoria, uma eventual e grave babada da revisão, em uma gralha aberrante. Acompanhando o estranhamento, haveria o espanto de imaginar uma razão para o “erro”: o que poderia ter causado a ausência de letras nas palavras flagrantemente “desdentadas”? Uma falha ou problema no arquivo digital? Uma sabotagem contra a publicação?! De qualquer forma, seja lá qual for a hipótese levantada, uma coisa é certa, a ausência de letras não inviabilizou constituição discursiva do título, seja da obra, seja desta “introd ção”.  A falta nas palavras não impossibilitou sua leitura, da mesma forma que quando trocamos as letras de um determinado termo, a troca pode parecer impreceptível (como, talvez, a palavrinha logo antes). De qualquer forma, o todo da leitura aconteceu, mesmo na ausência de partes, como se o título sorrisse com todos os dentes (a falta de dentes jamais torna ilegível um sorriso amigo…).

Partes e todo: a atividade

O que são as partes e o que é o todo, é importante que se observe, não é coisa simples em se tratando do ato de ler. Não é fácil configurar o que pode ser visto ou sentido como ausência em um texto ou como presença. O que falta ou o que aparece tem sempre em si um véu de incerteza, por isso não há interpretação sem sombra de controvérsia. As lentes da leitura nunca são transparentes. Além disso, não há, jamais, em um texto todas as informações necessárias ao entendimento. O jogo compreensivo traz, ativamente, da “parte” do leitor, perguntas possíveis já respondíveis pela recepção antes mesmo da leitura “em si” do texto. Assim funciona no reconhecimento de um tipo de suporte, de um gênero textual, no funcionamento como um texto se propõe, no “manual de instruções” que cerca e atravessa o funcionamento de todo jogo discursivo, já que “o leitor utiliza na leitura o que ele já sabe, o conhecimento adquirido ao longo de sua vida” (KLEIMAN, 2002).  Aliás, foi justamente o conhecimento prévio que o levou a estranhar (e completar) a falta de letras no título deste livro: isso não se encaixa no acordo precedente entre a produção e a recepção de um enunciado pronto, mas… deve haver algum motivo: o leitor perguntará a sei mesmo, já sabendo que palavras estão ali, inacabadas. E seguirá…

A partir do tal primeiro contato, olho no texto, mão na massa, o leitor é um atuante perguntador, já que no texto não oferece explicitamente todas as informações necessárias à sua compreensão. Quem lê deve trabalhar com hipóteses suspensas, respondidas à medida que progride a leitura nos seus saltos inquietos, submetidos à dinâmica proposta social, cultural e discursivamente a cada escritura, dirigida menos nos olhos e muito mais na nossa (in)(com)ciência. O a compreensão e o conhecimento irão se constituindo, usando o passado, projetando o futuro em uma linha de tempo multiplicada pelo feixe de experiências de cada leitor ativo, em quantos passados são possíveis nos termos acordados entre o autor e sua recepção.

Um dos autores aqui, neste livro, trabalhados, Federico Andahazi, em O livro dos prazeres proibidos, descreve uma das as antigas salas dos copistas, anteriores à prensa, onde trabalhavam, frente a longas mesas inclinadas, em banquetas, um ao lado do outro, os encarregados de reproduzir livros. As palavras de um dos personagens da obra, o Diretor da Casa da Moeda, pai de Gutemberg, mostram, nessa circunstância, a importância do desconhecer para a fidelidade da cópia:

Os melhores copistas são aqueles que não sabem ler. O significado do texto não apenas altera a caligrafia, mas induz ao erro, na medida em que, muitas vezes, compreendemos o que desejamos ler ou, pior ainda, só entendemos aquilo que está ao alcance da nossa razão. Além disso, é muito frequente discordar de um texto, de maneira que os copistas letrados podem se ver tentados a deixar sua própria opinião em obra alheia (Andahazi, 2013. Grifos nossos).

 

Aqui, por sinal, acrescenta-se a posição ativa do leitor, não apenas ao compreender do que lê, mas também, fundamentalmente, ao discordar do lido, do texto, acrescentando ao ato compreensivo um papel (des)(re)construtivo. Ele pode e deve (re)construir e, se não tiver outro jeito, discordar do que lê, avançando na compreensão ao propor um novo texto, uma réplica, um confronto.

Aos leitores de C mpl te  as le turas cabe esse papel também… avançar na compreensão que propomos nos capítulos que seguem, em nossas discussões sobre obras de autores convidados à 16ª Jornada Nacional de Literatura. Os autores estão agrupados em cinco partes, mas haverá posts isolados quase que diariamente, compondo essas “partes”, nesse “todo” a ser feito. Na primeira delas, estão dedicados estudos (leituras) sobre os novos coordenadores dos Palcos de Debates. Ali, estão contemplados trabalhos sobre Felipe pena, Alice Ruiz e Augusto Massi. Posteriormente, cada temática dos Palcos de Debates é aprofundada em um capítulo distinto.  “A leitura além dos limites: literatura e imagem”, trata do tema “Literatura e imagem: além dos limites do real”, discutindo obras de Pedro Gabriel, Zeca Camargo, Rafael Coutinho e Roger Mello. “Caminhar pela de memória “ associa-se à temática “Centauro, pedra, rosa e estrela”, que homenageia, na proposta da Jornada de 2017, Moacyr Scliar, Ariano Suassuna, Carlos Drummond de Andrade e Clarice Lispector. Tais autores completam décadas de nascimento ou morte esse ano e, além de ganharem espaços no complexo da 16ª Jornada nacional de Literatura, serão, no encontro com a plateia, discutidos por escritores da importância de Affonso Romano de Sant’Anna, Braulio Tavares, Cíntia Moscovich e Nádia Battella Gotlib. Essa seção ainda traz, obviamente, estudos sobe a obra dos autores homenageados. A quarta parte “A arte canta por elas (e por todos)”, está vinculada à temática “Por elas: a arte canta a igualdade” Marina Colasanti, Conceição Evaristo, Federico Andahazi. Por fim, “Sem medo de ler” trata das obras de   Mario Corso, Michel Laub, Julián Fuks, na a temática “Monstros e outros medos colecionáveis.

O C mpl te  as le turas, como blog, se oferece às lacunas de possíveis comentários. Que venham, que sejam positivos, provocadores, pois servirão como anotações abertas sobre a leitura das obras aqui discutidas, em novas análises a completar pontos que nossa equipe, com todo o esforço realizado, talvez não tenha percebido. É a hora de “discordar de um texto” se for o caso… Complete o incompleto, então, leitor, afinal, nem tudo precisa estar pronto..

Fabiane Burlamaque

Miguel Rettenmaier